quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O que você faria se pudesse ser invisível, imortal, flanar como um beija-flor ou conhecesse o segredo da felicidade?

O que fazemos com os poderes que nos são concedidos?

Os membros da Ordem Secular dos Leitores têm uma idéia, mesmo vaga, de tudo isso.



Você pode fazer parte desta Ordem. Não se trata de pedir que se ajoelhe, baixe a cabeça e receba o toque de uma espada em cada ombro. Aqui não será pedido mais do que seu coração por meio dos seus sentidos.

Ninguém está preparado para o que vem por aí. Olhos e ouvidos abertos e muita paixão é tudo o que você precisa para empreender esta jornada.



Um crime a ser investigado, uma notícia plantada no jornal.





Uma chave é roubada, aparentemente sem importância, mas fundamental.





Conhecimento é poder. Este poder pode ser devastador.

A Ordem Secular dos Leitores tem a missão de proteger um conhecimento inestimável e perigoso.

O segredo é a leitura, a chave é o conhecimento.

Viemos dotados de poderes e restrições. Podemos muito, mas somos limitados, imperfeitos.

Estamos andando, o caminho é longo e bonito.



Para fazer parte desta Ordem Secular dos Leitores não é necessário mais que a leitura de um pequeno trecho. Ele bastará para atrair o verdadeiro guardião.



Se ficar invisível cobrasse o preço do envelhecimento acelerado, quanto tempo você ficaria invisível?


Em realidade, já somos invisíveis, para quem não nos conhece, para quem nos esqueceu, a visibilidade é tão restrita quanto alguém saber O segredo da invisibilidade.


A cobiça é defeito de quem usa o roubo como meio de vida.

A valiosa jóia brasileira, a coroa imperial, nada menos do que ela para atrair alguém capaz de ficar invisível.



Como seria conviver com a imortalidade? O que se veria ao passar em velocidade acelerada a história da humanidade? Existem segredos que nem todos gostariam de saber. O segredo da longevidade é um deles.




O dono de um laboratório de análises clínicas tem mais de 1.600 anos e gostaría de morrer. O que seria uma dádiva, a imunidade mágica, é um peso para alguém que vê o homem repetir os mesmos erros geração após geração. Em O segredo da longevidade, o tema central é o tempo, o permanente, o provísório, o eterno e o nunca mais.



Não é fácil se tornar um guardião da Ordem Secular dos Leitores. Mas este esforço é sempre recompensado pelo prazer da leitura, pelo muito que ela dá em troca de alguns minutos de atenção. Por isto, este seu blog dos segredos oferece a você duas singelas primazias. A primeira delas é o capítulo inicial de O segredo da volatilidade. O livro aguarda oportunidade de ser lançado, dá seqüência à série dos segredos e tem como tema central distúrbios alimentares.
Um espião industrial consegue pairar no ar, mas a cada minuto voando ele perde peso, então ele precisa comer, e comer muito, para engordar e assim ganhar autonomia de vôo.


Nenhum pé no chão

A sala central do laboratório de pesquisas se encheu de uma névoa esbranquiçada. Os riscos esverdeados dos sensores de segurança cintilaram como lâminas incandescentes, revelando os trajetos possíveis até o terminal de dados do computador central. Cortavam em diagonais de ângulos irregulares, incidindo sobre o piso de forma que uma pessoa não conseguisse alcançar o painel de controle com os pés no chão. Era um sistema de segurança engenhoso, tudo ligado por alarmes à sala de vigilância.

O guarda, desacordado, não viu uma das telas do seu monitor tingir-se de negro, à medida que um spray era espirrado contra a lente da câmera do circuito interno.

Por melhor que fosse, o sistema não poderia prever que o invasor – um sujeito rotundo, enfiado num traje de mergulho preto com galochas ao invés de pés de pato – este improvável mergulhador pudesse ficar sem nenhum dos pés no chão. Este, que atende pelo nome de Ícaro, deu o primeiro passo rumo ao interior do emaranhado de linhas verdes, premido pelo tempo. Tinha de ser rápido por diversas razões; qualquer uma delas seria suficiente para pôr tudo a perder. O segundo passo preparou o movimento seguinte, algo incabível.

Depois de uma nova borrifada de névoa branca, centímetros acima do facho verde luminoso, Ícaro apoiou o pé direito no espaço, como se ali houvesse alguma base. Mais borrifadas e as lâminas, implacáveis, sibilaram rentes. O corpo do rotundo invasor foi diminuindo de largura, se esticando. Aos poucos, Ícaro escalou o vazio por entre os sensores luminosos e alcançou os arquivos de dados do laboratório.

Lá estava ele, suspenso no ar, com um cabo de transferência de dados de alta velocidade conectado ao dispositivo digital preso à cintura, copiando arquivos sigilosos – ingredientes, experimentos, proporções, relatórios de preferências – uma infinidade de trabalho, resultado de pesquisa nutricional dispendiosa.

Ícaro ficou assim apenas por instantes – um ser flutuante fora d'água. Não durou meia dúzia ou dezena de minutos, mesmo assim despendeu grande energia, o equivalente em quilogramas, o preço a pagar pela ousadia; outra razão para se apurar, não ser apanhado por inquéritos policiais, julgamentos e, se conseguissem, prisão.

Isto nunca se dera, mas Ícaro conhecia bem uma das leis do imponderável, todo mundo, um dia, cai. Por isso, evitava alturas, abismos, precipícios, assim, aumentava suas chances de sair ileso. Ícaro erguia-se rente ao solo, o suficiente para evitar sensores, e fazia render ao máximo sua incrível habilidade.

Como sistemas de segurança, planos de invasão também não podem prever o imponderável, prever todas as possibilidades, ou eliminar todos os vestígios. Um deles chamou a atenção do delegado Valfrido de Moura Randal, com suas luvas descartáveis, analisando a cena do crime. Desta vez, sua investigação não teria imagens forjadas ou qualquer vil artifício, expondo sua reputação ou sanidade mental.

– Voando? – disse agachado junto a uma poça bem no centro da sala.
Randal tocou o líquido, mediu sua viscosidade.

O doutor Molina Cerqueira, diretor do laboratório, não disfarçava sua decepção.

– Sim, delegado, esta é a única maneira de alguém se aproximar sem ser percebido pelos raios sensores. É um sistema ultramoderno...

– Sei... – Randal ergueu-se, dando as costas para a parafernália eletrônica até há pouco, inexpugnável. – Suor...

– O que disse?

– O líquido nesse piso... Acho que é suor.

Julião, da equipe de investigadores, se aproximou com um tubo de plástico. Enquanto recolhia a amostra, soltou um comentário em nada inocente.

– Suor de um beija-flor.

Randal não gostou da brincadeira; já Cabreira, o outro investigador da equipe, ria de tudo.

– Suor do Alladin – arrematou divertido para maior constrangimento do doutor Molina.
Julião conhecia bem aquela história.

– Alladin tinha um tapete voador, não fazia esforço.

Randal ia repreendê-los quando o doutor Molina interveio.

– Senhores, por favor! Se precisarem de ajuda, estarei à disposição em minha sala. Se me derem licença...

Julião e Cabreira, debaixo do olhar feroz de Randal, escoltaram a saída do diretor com ares de contrição, pelo menos era esta a impressão que deviam deixar ao doutor Molina, com o devido respeito. Sua equipe não era ralé, pelo contrário, em certos casos eram capazes de atuar como um grupo de especialistas. E aquele era um caso típico, bem ao gosto do freguês.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Ficha técnica
Vídeos: entrevistas de Edison Rodrigues Filho a Túlio Milmann no programa Estúdio 36 da TV COM Porto Alegre, Grupo RBS e no programa Estação Cultura da TVE RS.
Trilhas: reprodução de trechos de músicas de Madeleine Peyroux, Tom Waits, Avishai Cohen, Arrigo Barnabé e Vitor Ramil.
Ilustrações: Fernando Oliveira
Captação, tratamento digital e edição: Edison Rodrigues Filho